David
Um destes dias vi o David... Diferente como é normal após 6 ou 7 anos talvez...
Era um dos meninos da biblioteca.Na altura teria os seus 8 ou 9 anos,vinha regularmente com uma das irmãs mais velhas e a primeira coisa que fazia ao chegar, era abraçar-me e dar-me um beijo. Sempre ávido pelas novidades, curioso, esperto e também constantemente reprimido pela irmã "quieto David" " está calado David" " não mexas nisso David".
-Olha leva este, vais gostar- dizia-lhe eu, para contrariar um pouco a má vontade da irmã.
Ele agradecia e pedia para jogar no computador " Portugal à Aventura".Era o seu preferido.
- Não!Tens que ir para casa- novamente a irmã.
Um dia tive curiosidade para entender alguma trizteza que via nos olhos do David e tentei conhecê-lo melhor. Era meio irmão da rapariga que o acompanhava, fruto de uma "aventura" extraconjugal do pai e órfão de mãe. Tinha ido para casa do pai e da madrasta quando a sua mãe morreu. Entretanto o pai faleceu também e agora vivia com as duas irmãs e a madrasta...
E era órfão de carinho também.Isso ninguém me contou mas dava para ver à distancia...
A partir desse dia ainda reforcei mais a minha atenção no David. Às vezes enquanto lhe contava uma história, " deitava o olho" à irmã que abanava a cabeça em sinal de reprovação, como quem diz" perder tempo com esta peste"...
Mas o olhar meigo do David queria só um pouco de carinho e atenção. Só isso...
Agora que voltei a ver o David quase nem o reconheci. Cheio de pircings,cabelo de várias cores e adereços metálicos, como a dizer " não me chateiem..."
Das irmãs nem sinal!
Espero que um dia, mesmo só como sempre estiveste, encontres o caminho certo David !
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