quinta-feira, outubro 27, 2005

O meu Professor

Foi ele que nos explicou numa aula, o que se estava a passar, no país dos militares com cravos vermelhos ao peito. Na altura em que o meu pai ainda sentia algum receio em falar abertamente sobre o assunto: "quem sabe, as coisas ainda podem mudar..."

Às vezes, lembro-me das palavras que ele tão prontamente arranjava, para consolar uma ou outra colega que tinha tido uma zanga com a "melhor amiga": "na vida temos no máximo 2 ou 3 amigos verdadeiros"..

Dizia ele, que era difícil ao Homem ter vários amigos verdadeiros ao mesmo tempo. Uns vão e voltam, outros vão e não voltam mais...

E que os amigos são Tesouros que devemos cuidar e preservar dando o nosso carinho.

A vida tem-me ensinado o quanto eram sábias as palavras do Professor Hélder !

Touradas...

Não sou nem um pouco apreciadora deste tipo de exibição (que alguns consideram tradição).
É um combate desleal !
O homem munido de farpas que ferem, enfraquecem e matam o adversário lentamente. É triste ver o olhar do animal, tentando perceber o alarido à sua volta e por instinto investir contra o atacante.
Que me perdoem os senhores toureiros mas eu fico a torcer SEMPRE pelo touro. Tal como quando era miúda, nos filmes entre índios e cowboys, eu estava sempre do lado dos índios. Defendiam apenas a sua terra e modo de vida, contrariamente aos que os colonos americanos tentavam a todo o custo fazer passar para o resto do mundo. Mas se a memória não me falha ,hoje continuamos a assistir a situações em tudo semelhantes...
Voltando às touradas, há depois a chamada "Pega", altura em que o mais arrojado do grupo, enfrenta a "fera" olhos nos olhos( há pessoas que gostam de transpor essa imagem para situações do dia a dia "agarrar o touro pelos cornos"; ele há gostos...).
E temos por fim, o que segura no rabo do animal e rodopia várias vezes com o bicho, fazendo por fim uma saída triunfal, enquanto o pobre do animal tenta, quem sabe, limitar-se a não perder ainda mais o equilibrio...
Na arena da vida, deparamo-nos muitas vezes com combates desleais como este em que uns utilizam o poder, a ganância, a inveja e outro tipo de "armas", para esmagar ou simplesmente ferir quem lhes apetece. Quantas vezes casos de algum problema de identidade não resolvido...
Outros rodopiam, rodopiam ... e afastam-se com ar de superioridade...

sexta-feira, outubro 21, 2005

Árvore da minha infância...

Ao passar no jardim central da terra onde vivo,reparei que tinham cortado, aquele enorme cedro que tantas vezes subi para me esconder, quando era pequenita.

E como eu gostava de o fazer. Ficava lá em cima, bem quietinha, escondida pela ramagem, e olhava deliciada cá para baixo, para os meus amigos e amigas, que a certa altura diziam :
" podes aparecer, eu salvo-te, não és tu a contar"

E aí vinha eu feliz da vida, prontinha para continuar a brincadeira e ir procurar outro esconderijo. O melhor possivel, aquele que menino algum ainda tivesse usado. Isso é que me deixava toda contente, ir para um sítio que ninguém esperasse .

Tempos felizes esses.

Agora já não tenho para mostrar aos meus cachopos ( ou quem sabe um dia aos meus netos) as árvores que eu subia. Estão a ser cortadas ano após ano, mas também para elas ,é a lei da vida...

às vezes dou comigo a pensar na menina Odete do "lugar" onde a minha mãe me mandava ir buscar um caldo verde , como nunca voltei a comer...

ou no senhor ao fundo da vila ,que arranjava bicicletas e tinha uma "coleçção" enorme de perdigueiros que eram o meu pavor... ( as voltas que eu dava para não ter que passar junto deles e os filmes que passavam na minha cabecita de 8 anos :acabava sempre por ser mordida por uma daquelas "feras")

ou no café da D.Gina e no prazer que me dava quando a minha mãe pegava numa moeda das pretas e dizia: vai comprar um gelado e traz um para mim também. Que delicia...

as "aventuras" que viviamos no trajecto casa/escola, pelo velho caminho do lagar e da ribeira, onde podiamos avistar os cágados enormes e outra bicharada...

Pois é.

Mas hoje há outras coisas. O mundo mudou e está a mudar. É o progresso. Aí estão as lojas, os super, os cafés,os clubes,os ...

Afinal de contas a quem interessa mais uma árvore ou menos uma árvore no jardim da praça central ? Ou uma ribeira que já não tem cágados, mas em contrapartida tem detritos e cheira mal que se farta. Que seque... era um favor aos vizinhos.


hoje os miúdos também já não querem árvores para brincar.Têm consolas e computadores, skates e telémoveis, barbies e carros telecomandados. E muitas outras coisas.

"a vida é composta de mudança" e ainda bem que assim é

Mas não quero saber: gostava mesmo da "minha" árvore da infância e fiquei muito triste por ela ter morrido !

quarta-feira, outubro 19, 2005

Conversas de rua

O meu filho de 10 anos em conversa comigo:
-" Mãe, sabes aquelas senhoras que andam na rua a limpar as valetas?!..."
-"Sim filho"
-"Quando eu ía a passar estavam todas com o telémovel na mão.A mãe do B*** com um de 3ª geração, a dizer os tocs que tinha. "
-" ... ?"
-"E as outras também com altos telemóveis..."
-" Olha filho, cada um faz do seu dinheiro o que bem quer, percebes ?"

O miúdo olha para mim com ar de quem não está a entender.

E francamente ele há coisas, que eu também não entendo !

segunda-feira, outubro 10, 2005

Nada de novo...

Cá estamos para mais 4 anos sem nada de novo.
O perfil para ser eleito presidente da câmara : ser acusado de pelo menos 23 crimes.
Isto dá-lhes, sem dúvida alguma, a certeza duma vitória esmagadora.
É Portugal no seu melhor.

Que se lixem as contas bancárias e carros de luxo. Que se lixem os detritos despejados a céu aberto e desvios de fundo.

O portuga gosta mesmo mesmo é de tainadas. Porco no espeto com muito vinho à mistura.

São os ingredientes necessários para elevar qualquer um a herói! E ganhar qualquer causa.


P.S. Uma das obras obrigatórias no meu 11º ano a inglês há muitos anos atrás foi : " O triunfo dos Porcos" de George Orwell. De vez em quando lembro-me do Napoleão, o porco, que dizia qualquer coisa do género: "todos os animais são iguais, mas uns são mais iguais que outros"...

Acho que vou reler esta obra...

segunda-feira, outubro 03, 2005

As Meninas de Lourêdo

O meu bem -haja às "Meninas de Lourêdo"

Todas na casa dos 70's. A vida já lhes deu esse direito e falam sem ofensas, sem receios e sem hipocrisia, o que lhes vai na alma.
E fizeram-no ali mesmo, olhos nos olhos, cara a cara, com o "dono" dos destinos da sua terra.

Que diferença entre elas e os outros, que ali por perto, aproveitavam o evento, para no sítio habitual, tecerem a sua crónica semanal do corte e costura.

É que às vezes os ditos( leia-se tomates) ficam-se pela garganta...