quarta-feira, março 29, 2006

Mais vale cair em graça...

Quando a minha mãe soube que estava grávida de mim...chorou! Uma opção como outra qualquer para demonstrar o que se sente no momento. Meses depois nova decepção: afinal eu não era "branquinha" como a minha irmã.Era "trigueira" segundo a sua expressão e particularidade nada apreciada segundo os ideais de beleza da época. Ainda hoje se calhar ....

Depois cresci sempre "refilona".Pois é, sempre achei que as verdades são para ser ditas doa a quem doer. E isso trouxe-me muitos problemas.Muitos mesmo. Mas com o tempo fui aprendendo que nem sempre o podemos fazer se quisermos ter alguma paz...
A minha mãe achava ( e ainda hoje pensa assim) que se deve dizer amém com os outros, para não levantar problemas...

Não sou egoista como alguns filhos que se lembram apenas dos pais quando deles precisam para tomar conta dos filhos para ir de férias ou de fins de semana... Eu estou presente no dia a dia com tudo o que de bom ou menos bom isso representa...

Mas às vezes confesso que me sinto revoltada com algumas atitudes. Das duas uma, ou faço TUDO na minha vida como a minha mãe quer, ou então lá tenho que ouvir as "novelas" que ela cria na sua cabecinha acerca da minha existência, como se fosse uma adolescente meia perdida ainda à procura do caminho a seguir... Haja paciência!!!

E vai buscar histórias de uma vida com pormenores que se calhar a sua cabecita já floreou ao longo dos anos. E eu continuo a NUNCA TER RAZÃO. Acho que isso é que me chateia!!!!!!!


Mais do que a "desilusão" de ter nascido feia e trigueira...

Mais do que as lágrimas que a minha mãe chorou na minha gravidez...

quarta-feira, março 22, 2006

David

Um destes dias vi o David... Diferente como é normal após 6 ou 7 anos talvez...

Era um dos meninos da biblioteca.Na altura teria os seus 8 ou 9 anos,vinha regularmente com uma das irmãs mais velhas e a primeira coisa que fazia ao chegar, era abraçar-me e dar-me um beijo. Sempre ávido pelas novidades, curioso, esperto e também constantemente reprimido pela irmã "quieto David" " está calado David" " não mexas nisso David".

-Olha leva este, vais gostar- dizia-lhe eu, para contrariar um pouco a má vontade da irmã.

Ele agradecia e pedia para jogar no computador " Portugal à Aventura".Era o seu preferido.

- Não!Tens que ir para casa- novamente a irmã.

Um dia tive curiosidade para entender alguma trizteza que via nos olhos do David e tentei conhecê-lo melhor. Era meio irmão da rapariga que o acompanhava, fruto de uma "aventura" extraconjugal do pai e órfão de mãe. Tinha ido para casa do pai e da madrasta quando a sua mãe morreu. Entretanto o pai faleceu também e agora vivia com as duas irmãs e a madrasta...

E era órfão de carinho também.Isso ninguém me contou mas dava para ver à distancia...

A partir desse dia ainda reforcei mais a minha atenção no David. Às vezes enquanto lhe contava uma história, " deitava o olho" à irmã que abanava a cabeça em sinal de reprovação, como quem diz" perder tempo com esta peste"...

Mas o olhar meigo do David queria só um pouco de carinho e atenção. Só isso...

Agora que voltei a ver o David quase nem o reconheci. Cheio de pircings,cabelo de várias cores e adereços metálicos, como a dizer " não me chateiem..."

Das irmãs nem sinal!

Espero que um dia, mesmo só como sempre estiveste, encontres o caminho certo David !